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Confissão Belga

Escrita por Guido de Brès em 1561 e revisada pelo Sínodo de Dort em 1619.

 

Artigo 1: Só existe um Deus

Todos nós cremos com o coração, e confessamos com a boca, [1] que só existe um Deus, [2] que é um ser espiritual e simples; [3] ele é eterno, [4] incompreensível, [5] invisível, [6] imutável, [7] infinito, [8] onipotente, [9] perfeitamente sábio, [10] justo, [11] bom [12] e a fonte transbordante de todo o bem [13].

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[1] Rm 10.10; [2] Dt 6.4; 1Co 8.4,6; 1Tm 2.5; [3] Jo 4.24; [4] Sl 90.2; [5] Rm 11.33; [6] Cl 1.15; 1Tm 6.16; [7] Tg 1.17; [8] 1Rs 8.27; Jr 23.24; [9] Gn 17.1; Mt 19.26; Ap 1.8; [10] Rm 16.27; [11] Rm 3.25, 26; Rm 9.14; Ap 16.5, 7; [12] Mt 19.17; [13] Tg 1.17.

Artigo 2: Como Deus se faz conhecido a nós

 

Nós o conhecemos por dois meios. Primeiro: pela criação, preservação e governo do universo, exposto aos nossos olhos como o mais magnífico dos livros [1], no qual todas as criaturas grandes e pequenas são como as muitas letras que nos levam a reconhecer claramente “os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade”, como nos diz o apóstolo Paulo em Romanos 1.20. Todas essas coisas são suficientes para convencer os homens e torná-los indesculpáveis.

 

Segundo: ele se faz conhecer mais clara e plenamente através da sua Santa e Divina Palavra [2] — tanto quanto para nós é necessário nesta vida — para a sua glória e nossa salvação.

 

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[1] Sl 19.1-4; [2] Sl 19.7, 8; 2Co 1.18-21.

Artigo 3: A Palavra de Deus

 

Confessamos que a Palavra de Deus não foi enviada nem produzida pela “vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo”, como afirma o apóstolo em 2 Pedro 1.21. Após isto Deus, em seu especial cuidado por nós e nossa salvação, ordenou que os profetas e os apóstolos, seus servos, registrassem por escrito a sua Palavra revelada [1]; tendo ele mesmo escrito com os próprios dedos as duas tábuas da lei [2]. É por isso que chamamos esses escritos de Sagradas e Divinas Escrituras [3].

 

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[1] Êx 34.27; Sl 102.18; Ap 1.11, 19; [2] Êx 31.18; [3] 2Tm 3.16.

Artigo 4: Os livros canônicos

 

Cremos que as Sagradas Escrituras se constituem de duas partes: o Velho e o Novo Testamentos, que são canônicos e contra os quais nada se pode pretextar. Esta é a relação dos livros reconhecidos pela igreja de Deus. Os livros do Velho Testamento são:

  • Cinco livros de Moisés: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio;

  • Doze livros históricos: Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas [comumente chamados de paralipômenos], Esdras, Neemias, Ester;

  • Cinco livros poéticos: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos;

  • Quatro profetas maiores: Isaías, Jeremias (com Lamentações), Ezequiel e Daniel;

  • Doze profetas menores: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.

 

Os livros do Novo Testamento são:

  • Quatro evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João;

  • Os Atos dos Apóstolos;

  • As quatorze cartas do apóstolo Paulo: Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito e Filemon e Hebreus*;

  • As outras sete cartas: Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3 João e Judas;

  • E a revelação do apóstolo João: Apocalipse.

 

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* Em geral, nas revisões modernas, a carta de Hebreus não é atribuída ao apóstolo Paulo.

 

Artigo 5: A autoridade das Sagradas Escrituras

 

Recebemos [1] todos esses livros — e só eles — como sagrados e canônicos para regular, fundamentar e confirmar a nossa fé [2]. Cremos, sem dúvida nenhuma, em tudo o que eles contêm, não tanto porque a igreja assim os recebe e aprova, mas principalmente porque o Espírito Santo testifica em nossos corações que eles veem de Deus [3], como eles mesmos provam; pois até os cegos podem perceber que as coisas preditas neles estão a se cumprir [4].

 

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[1] 1Ts 2.13; [2] 2Tm 3.16, 17; [3] 1Co 12.3; 1Jo 4.6; 1Jo 5.7; [4] Dt 18.21, 22; 1Rs 22.28; Jr 28.9; Ez 33.33.

Artigo 6: A diferença entre os livros canônicos e os livros apócrifos

 

Distinguimos esses livros sagrados dos apócrifos, que são os seguintes: 3 e 4 Esdras, Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, os acréscimos ao livro de Ester e Daniel (o cântico de Azarias na fornalha, o cântico dos três jovens na fornalha, a história de Suzana, Bel e o Dragão), a oração de Manassés e 1 e 2 Macabeus.

 

A igreja pode ler e tirar deles instrução até onde concordarem com os livros canônicos. Mas não têm nenhum poder nem autoridade que possam confirmar pelo seu testemunho qualquer artigo da fé ou da religião cristã; muitos menos podem diminuir a autoridade dos livros sagrados.

Artigo 7: A suficiência da Sagrada Escritura

 

Cremos que a Sagrada Escritura contém perfeitamente a vontade de Deus e que ensina suficientemente tudo aquilo que o homem precisa saber para ser salvo [1]. Nela está detalhado e escrito cabalmente o modo de adoração que Deus requer de nós. Por isso, não é lícito a ninguém, nem mesmo a apóstolos, nada ensinar que seja diferente daquilo que agora nos ensina a Sagrada Escritura [2]; sim, nem que seja “um anjo vindo do céu”, como afirma o apóstolo Paulo (Gl 1.8). A proibição de acrescentar ou retirar qualquer coisa da Palavra de Deus (Dt 12.32) [3], é evidência que a doutrina nela contida é perfeitíssima e completíssima em todos os sentidos [4]. Não nos é permitido considerar quaisquer escritos de homens, por mais santos que tenham sido, como de igual valor ao das Escrituras Divinas; nem devemos considerar que costumes, maiorias, antiguidade, sucessão de tempos e de pessoas, concílios, decretos ou estatutos tenham o mesmo valor da verdade de Deus [5], porque a verdade está acima de tudo. Pois todos os homens são em si mesmos mentirosos e “mais leves que a vaidade” (Sl 62.9). Por isso, rejeitamos de todo o coração tudo aquilo que discorde dessa regra infalível [6], conforme nos ensinou o apóstolo: “provai os espíritos se procedem de Deus” (1Jo 4.21), e também: “Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas” (2Jo 1.10).

 

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[1] 2Tm 3.16, 17; 1Pe 1.10-12; [2] 1Co 15.2; 1Tm 1.3; [3] Dt 4.2; Pv 30.6; At 26.22; 1Co 4.6; Ap 22:18, 19; [4] Sl 19.7; Jo 15.15; At 18.28; 20.27; Rm 15.4; [5] Mc 7.7-9; At 4.19; Cl 2.8; 1Jo 2.19; [6] Dt 4.5, 6; Is 8.20; 1Co 3.11; Ef 4.4-6; 2Ts 2.2; 2Tm 3.14, 15.

Artigo 8: Trindade — Deus é um em essência, contudo distinto em três pessoas

De acordo com essa verdade e a Palavra de Deus, cremos em um só Deus [1], uno na essência, em quem há três pessoas distintas — de modo real, verdadeiro e eterno — conforme os seus atributos incomunicáveis: o Pai, o Filho e o Espírito Santo [2]. O Pai é a causa, a origem e o princípio de todas as coisas visíveis e invisíveis [3]. O Filho é a Palavra, a sabedoria, e a imagem do Pai [4]. O Espírito Santo é a força e o poder eternos que procedem do Pai e do Filho [5]. Deus, contudo, não está dividido em três, pois as Sagradas Escrituras nos ensinam que o Pai, o Filho e o Espírito Santo cada um tem sua própria pessoa diferenciada por seus atributos, mas de tal modo que as três pessoas são apenas um único Deus.

É evidente, então, que o Pai não é o Filho e que o Filho não é o Pai; e também que o Espírito Santo não é o Pai nem o Filho. Todavia essas pessoas distintas não estão divididas, nem misturadas entre si; pois o Pai não assumiu a nossa carne e sangue, nem também o Espírito Santo, mas somente o Filho. O Pai jamais existiu sem seu Filho [6] ou sem seu Espírito Santo, pois os três, em uma única e mesma essência, são iguais em eternidade. Não há primeiro nem último, pois todos os três são um em verdade, poder, bondade e misericórdia.

 

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[1] 1Co 8.4-6; [2] Mc 3.16, 17; Mt 28.19; [3] Ef 3.14, 15; [4] Pv 8.22-31; Jo 1.14; 5.17-26; 1Co 1.24; Cl 1.15-20; Hb 1.3; Ap 19.13; [5] Jo 15.26; [6] Mq 5.2; Jo 1.1, 2.

 

Artigo 9: O testemunho da Escritura sobre a Trindade

 

Tudo isso sabemos tanto pelo testemunho da Sagrada Escritura [1] quanto pelas obras de cada uma das três pessoas e especialmente por aquelas que percebemos em nós mesmos. Os testemunhos da Escritura que nos ensinam a crer na Trindade Santa estão registrados em muitos lugares no Velho Testamento. Não é necessário citá-los todos, basta selecionar criteriosamente alguns deles. No livro de Gênesis 1.27 e 26, Deus diz: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança .... Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Assim também em Gênesis 3.22: “Eis que o homem se tornou como um de nós”. Quando Deus diz: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança, evidencia-se que existe mais do que uma Pessoa Divina; e ao dizer: Criou Deus, demonstra-se que só existe um único Deus. É verdade que não se diz quantas pessoas são, mas aquilo que no Velho Testamento parece um tanto obscuro, no Novo Testamento fica totalmente claro. Pois quando o nosso Senhor foi batizado no rio Jordão, ouviu-se a voz do Pai que disse: “Este é o meu Filho amado” (Mt 3.17), enquanto o Filho foi visto na água e o Espírito Santo desceu sobre ele na forma corpórea de uma pomba [2]. Além disso Cristo prescreveu a seguinte fórmula para o batismo de todos os crentes: “batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19). No evangelho segundo Lucas, o anjo Gabriel assim diz a Maria, mãe do nosso Senhor: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus” (Lc 1.35).

 

E de modo semelhante: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós” (2Co 13.14). Em todas essas referências somos amplamente ensinados que existem três pessoas em uma única essência. Embora tal doutrina ultrapasse o entendimento humano, na vida presente cremos nela alicerçados na Palavra de Deus, e esperamos gozar de seu pleno conhecimento e fruto no céu porvir.

 

Temos, acima de tudo, que observar os ofícios e as obras distintos dessas três pessoas para conosco. O Pai é chamado nosso Criador por seu poder; o Filho, nosso salvador e Redentor por seu sangue; o Espírito Santo, nosso Santificador, porque habita em nossos corações. A doutrina da Santa Trindade sempre tem sido mantida na verdadeira igreja, dos dias apostólicos até o presente, contra os judeus, os mulçumanos, e contra os falsos cristãos e os hereges como Marcião, Mani, Práxeas, Sabélio, Paulo de Samósata, Ário, e outros, que foram condenados de modo justo pelos pais ortodoxos. Quanto a essa doutrina, portanto, aceitamos de boa vontade os três credos: o Apostólico, o Niceno, e o Atanasiano; bem como o que os pais antigos estabeleceram em concordância com estes credos.

 

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[1] Jo 14.16; Jo 15.26; At 2.32, 33; Rm 8.9; Gl 4.6; Tt 3.4-6; 1Pe 1.2; 1Jo 4.13, 14; 1Jo 5.1-12; Jd 20,21; Ap 1.4,5; [2] Mt 3:16.

 

Artigo 10: Jesus Cristo, eterno e verdadeiro Deus

 

Cremos que Jesus Cristo é, segundo a sua natureza Divina, o Filho Unigênito de Deus [1], gerado desde a eternidade, não feito nem criado — senão seria uma criatura — mas é da mesma substância e co-eterno com o Pai, “é o resplendor da glória e a expressão exata do seu ser” (Hb 1.3) e em tudo igual a ele [2]. Ele é o Filho de Deus não somente desde que assumiu a nossa natureza, mas desde a eternidade [3], conforme nos ensina a comparação dos seguintes testemunhos: Moisés afirma que Deus criou o mundo [4]; o apóstolo João diz que tudo foi criado pelo Verbo, ao qual chama Deus [5]. O apóstolo nos diz que Deus criou o mundo por meio do seu Filho [6], assim como afirma que Deus criou todas as coisas por meio de Jesus Cristo [7].

 

Portanto, conclui-se necessariamente que àquele a quem chamam de Deus, de Verbo, de Filho e de Jesus Cristo, existia de fato já no tempo em que todas as coisas foram criadas por ele.

Por isso é que ele pôde dizer: “Em verdade, em verdade eu vos digo: antes que Abraão existisse, Eu sou” (Jo 8.58), e pôde orar: “glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo” (Jo 17.5). Logo, ele é o Deus verdadeiro e eterno, o onipotente a quem invocamos, adoramos e servimos.

 

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[1] Mt 17.5; Jo 1.14, 18; Jo 3.16; Jo 14.1-14; Jo 20.17, 31; Rm 1.4; Gl 4.4; Hb 1.2; 1Jo 5.5, 9-12; [2] Jo 5.18, 23; Jo 10.30; Jo 14.9; Jo 20.28; Rm 9.5; Fp 2.6; Cl 1.15; Tt 2.13; Hb 1.3; Ap 5.13; [3] Jo 8.58; Jo 17.5; Hb 13.8; [4] Gn 1.1; [5] Jo 1.1-3; [6] Hb 1.2; [7] 1Co 8.6; Cl 1:16.

  • Artigo 1: Só existe um Deus
    Todos nós cremos com o coração, e confessamos com a boca, [1] que só existe um Deus, [2] que é um ser espiritual e simples; [3] ele é eterno, [4] incompreensível, [5] invisível, [6] imutável, [7] infinito, [8] onipotente, [9] perfeitamente sábio, [10] justo, [11] bom [12] e a fonte transbordante de todo o bem [13].​ ________________________ [1] Rm 10.10; [2] Dt 6.4; 1Co 8.4,6; 1Tm 2.5; [3] Jo 4.24; [4] Sl 90.2; [5] Rm 11.33; [6] Cl 1.15; 1Tm 6.16; [7] Tg 1.17; [8] 1Rs 8.27; Jr 23.24; [9] Gn 17.1; Mt 19.26; Ap 1.8; [10] Rm 16.27; [11] Rm 3.25, 26; Rm 9.14; Ap 16.5, 7; [12] Mt 19.17; [13] Tg 1.17.
  • Artigo 2: Como Deus se faz conhecido a nós
    Nós o conhecemos por dois meios. Primeiro: pela criação, preservação e governo do universo, exposto aos nossos olhos como o mais magnífico dos livros [1], no qual todas as criaturas grandes e pequenas são como as muitas letras que nos levam a reconhecer claramente “os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade”, como nos diz o apóstolo Paulo em Romanos 1.20. Todas essas coisas são suficientes para convencer os homens e torná-los indesculpáveis. Segundo: ele se faz conhecer mais clara e plenamente através da sua Santa e Divina Palavra [2] — tanto quanto para nós é necessário nesta vida — para a sua glória e nossa salvação. ________________________ [1] Sl 19.1-4; [2] Sl 19.7, 8; 2Co 1.18-21.
  • Artigo 3: A Palavra de Deus
    Confessamos que a Palavra de Deus não foi enviada nem produzida pela “vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo”, como afirma o apóstolo em 2 Pedro 1.21. Após isto Deus, em seu especial cuidado por nós e nossa salvação, ordenou que os profetas e os apóstolos, seus servos, registrassem por escrito a sua Palavra revelada [1]; tendo ele mesmo escrito com os próprios dedos as duas tábuas da lei [2]. É por isso que chamamos esses escritos de Sagradas e Divinas Escrituras [3]. ________________________ [1] Êx 34.27; Sl 102.18; Ap 1.11, 19; [2] Êx 31.18; [3] 2Tm 3.16.

Artigo 11: O Espírito Santo, eterno e verdadeiro Deus

Cremos e confessamos também que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho desde a eternidade. Ele não foi feito, nem criado, nem gerado; pode-se afirmar apenas que ele procede de ambos [1]. Ele é, pela ordem, a Terceira Pessoa da Trindade, de igual substância majestade e glória com o Pai e o Filho, verdadeiro e eterno Deus, conforme nos ensina as Sagradas Escrituras [2].

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[1] Jo 14.15-26; Jo 15.26; Rm 8.9; [2] Gn 1.2; Mt 28.19; At 5.3, 4; lCo 2.10; 1Cor 3:16; 1Co 6.11; 1Jo 5.7.

 

Artigo 12: A criação de todas as coisas, especialmente dos anjos

Cremos que o Pai criou por sua Palavra — isto é, por meio de seu Filho, o Verbo — o céu, a terra e todas as criaturas do nada, quando bem lhe aprouve [1], e que, a cada uma delas, concedeu o ser, a forma, e a aparência, e a cada uma a própria função específica para servirem ao seu Criador. Cremos que ele também continua a sustentá-las e a governá-las segundo a sua providência eterna, pelo seu poder infinito, para que sirvam ao homem, a fim de que o homem possa servir ao seu Deus.

Ele também criou os anjos bons, para serem seus mensageiros e servirem a seus eleitos [2]. Da posição de exaltação em que foram criados por Deus, alguns deles caíram na perdição eterna [3], tendo os demais, pela graça de Deus, permanecido firmes em seu estado original. Os demônios e os espíritos malignos são tão corrompidos que são inimigos de Deus e de todo o bem [4]. Ficam de espreita como assassinos para, com todas as suas forças, arruinarem a igreja e a todos os seus membros e para tudo destruírem com os seus artifícios malignos [5]. Por isso, pela própria malignidade deles, estão condenados à perdição eterna e aguardam a cada dia os seus horríveis tormentos [6].

Assim, abominamos e rejeitamos o erro dos saduceus, que negam a existência de espíritos e de anjos [7]; e também os erros dos maniqueístas, que dizem que os demônios não foram criados, mas que têm origem em si mesmos e que não se corromperam, sendo malignos pela própria natureza.

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[1] Gn 1.1; Gn 2.3; Is 40.26; Jr 32.17; Cl 1.15, 16; lTm 4.3; Hb 11.3; Ap 4.11; [2] Sl 103.20, 21; Mt 4.11; Hb 1.14; [3] Jo 8.44; 2Pe 2.4; Jd 6; [4] Gn 3.1-5; lPe 5.8; [5] Ef 6.12; Ap 12.4, 13-17; Ap 20.7-9; [6] Mt 8.29; Mt 25.41; Ap 20.10; [7] At 23.8.

 

Artigo 13: A providência de Deus

Cremos que o bom Deus, depois de haver criado todas as coisas, não as abandonou nem as entregou ao destino ou acaso [1], mas segundo a sua santa vontade ele as rege e governa de tal modo que no mundo nada acontece sem a sua determinação [2]. Deus, contudo, não é o autor nem é culpável dos pecados que se cometem [3], pois seu poder e bondade são tão grandes e incompreensíveis que ele ordena e faz a sua obra de modo mais excelente e justíssimo, ainda que os demônios e os ímpios ajam com injustiça [4]. E quanto àquilo que ele faz que ultrapassa o entendimento humano, não queremos investigar curiosamente além da nossa capacidade de entender. Mas adoramos com toda humildade e reverência os justos juízos de Deus, que nos estão ocultos [5]. Contentamo-nos em ser discípulos de Cristo, que devem aprender apenas o que ele nos ensina em sua Palavra, sem transgredir esses limites [6].

Essa doutrina nos traz uma consolação indizível, quando nos ensina que nada nos acontece por acaso, mas somente pela determinação do nosso gracioso Pai celestial. Ele cuida de nós com zelo paternal, guardando as suas criaturas de tal modo que debaixo do seu poder que nem mesmo um cabelo da nossa cabeça — pois estão todos contados — ou um pardal cai por terra sem o consentimento do nosso Pai (Mt 10.29, 30). Nisso confiamos, pois sabemos que ele reprime o maligno e todos os nossos inimigos para que não possam nos ferir sem a sua permissão ou vontade [7].

Por isso rejeitamos o detestável erro dos epicureus, que afirmam que Deus não se importa com nada, mas tudo entrega ao acaso.

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[1] Jo 5.17; Hb 1.3; [2] Sl 115.3; Pv 16.1, 9, 33; Pv 21.1; Ef 1.11, 12; Tg 4.13-15; [3] Tg 1.13; 1Jo 2.16; [4] Jó 1.21; Is 10.5; Is 45.7; Am 3.6; At 2.23; At 4.27,28; [5] 1Rs 22.19-23; Rm 1.28; 2Ts 2.11; [6] Dt 29.29; 1Co 4.6; [7] Gn 45.8; Gn 50.20; 2Sm 16.10; Rm 8.28, 38, 39.

 

Artigo 14: A criação e queda do homem e a sua incapacidade de realizar o que seja verdadeiramente bom

Cremos que Deus criou o homem do pó ́ da terra [1] e o fez e o formou à sua imagem e semelhança: bom, justo e santo [2]. A sua vontade ajustava-se à vontade de Deus em tudo. Mas quando o homem estava naquele estado sublime, ele não o compreendeu nem reconheceu a sua posição excelente, mas acolheu as palavras do diabo e sujeitou-se por livre vontade ao pecado e, assim, à morte e à maldição [3]. Transgrediu o mandamento de vida que recebera, e por seu pecado apartou-se de Deus, que era a sua vida verdadeira, corrompendo toda a sua natureza e tornando-se, pois, merecedor da morte física e espiritual [4].

Havendo se tornado ímpio e perverso, corrupto em todas as suas práticas, perdeu todos os dons excelentes [5] que havia recebido de Deus. Nada lhe restou disso senão uns poucos vestígios, suficientes para torná-lo indesculpável [6]. Logo, qualquer luz que há em nós transformou-se em trevas [7], como nos ensina a Escritura: “A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela” (Jo 1.5). Aqui o apóstolo João chama a natureza humana de “trevas”.

Rejeitamos, portanto, todo ensinamento sobre o livre-arbítrio que seja contrário a isso, porque o homem não passa de escravo do pecado (Jo 8.34) e ninguém “pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada” (Jo 3.27). Pois, quem é que ousa vangloriar-se de poder por si mesmo fazer algum bem, quando Cristo afirma que: “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer” (Jo 6.44)? Quem se gloriará da sua vontade própria, depois de compreender que “o pendor da carne é inimizade contra Deus” (Rm 8.7)? Quem pode falar do seu entendimento, quando “o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus” (1Co 2.14)? Em resumo, quem é que ousa reivindicar, seja o que for, quando entende que não somos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós mesmos, mas que a nossa capacidade vem de Deus (2Co 3.5)? Por isso, aquilo que o apóstolo diz deve justamente permanecer certo e firme: “porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2.13). Porque não há entendimento, nem vontade ajustada ao entendimento e à vontade de Deus, se Cristo não o efetuar em nós, segundo ele nos ensina: “sem mim nada podeis fazer” (Jo 15.5).

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[1] Gn 2.7; Gn 3.19; Ec 12.7; [2] Gn 1.26, 27; Ef 4.24; Cl 3.10; [3] Gn 3.16-19; Rm 5.12; [4] Gn 2.17; Ef 2.1; Ef 4.18; [5] Sl 94.11; Rm 3.10; Rm 8.6; [6] Rm 1.20, 21; [7] Ef 5.8.

 

Artigo 15: O pecado original

Cremos que pela desobediência de Adão o pecado original se estendeu a toda a raça humana [1]. Esse pecado é a corrupção de toda a natureza humana [2] e um mal hereditário que contamina até mesmo as criancinhas no ventre de suas mães [3]. Como raiz, produz no homem toda a sorte de pecados. É, portanto, tão vil e enorme diante de Deus que é suficiente para condenar a raça humana [4]. Não é eliminado ou erradicado, nem mesmo pelo batismo, pois o pecado sempre jorra desta corrupção como a água corrente de uma fonte contaminada [5]. Mas apesar de tudo isso o pecado original não é imputado para a condenação dos filhos de Deus, mas por sua graça e misericórdia lhes é perdoado [6]. Isso não significa que os crentes podem descansar tranquilamente em seus pecados, mas que a consciência dessa corrupção muitas vezes pode fazê-los gemer, na ansiosa expectativa de serem libertos do corpo dessa morte.

A esse respeito, repudiamos o erro dos pelagianos que dizem ser esse pecado apenas uma questão de imitação.

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[1] Rm 5.12-14, 19; [2] Rm 3.10; [3] Jó 14.4; Sl 51.5; Jo 3.6; [4] Ef 2.3; [5] Rm 7.18, 19; [6] Ef 2.4, 5.

 

Artigo 16: A eleição divina

Cremos que quando toda a descendência de Adão se precipitou na perdição e na ruína pela transgressão do primeiro homem [1], Deus mostrou-se como realmente é: misericordioso e justo. Misericordioso por socorrer e salvar desta perdição aos que, em seu conselho eterno e imutável [2] ele elegeu [3] por pura bondade em Jesus Cristo nosso Senhor [4], sem levar em consideração nenhuma das obras deles [5]. Justo por deixar os outros na queda e na perdição nas quais eles mesmos se precipitaram.

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[1] Rm 3.12; [2] Jo 6.37, 44; Jo 10.29. Jo 17. 2, 9, 12; Jo 18.9; [3] 1Sm 12.22; Sl 65.4; At 13.48; Rm 9.16; Rm 11.5; Tt 1.1; [4] Jo 15.16, 19; Rm 8.29; Ef 1.4, 5; [5] Ml 1.2, 3; Rm 9.11-13; 2Tm 1.9; Tt 3.4, 5; [6] Rm 9.19-22; 1Pe 2.8.

 

Artigo 17: O socorro do homem caído

Cremos que o nosso Deus gracioso, ao ver que o homem se precipitara na morte física e espiritual e se fizera completamente miserável, em sua maravilhosa sabedoria e bondade saiu em busca dele quando fugiu trêmulo da sua presença [1]. Deus o consolou com a promessa de que lhe daria o seu Filho, nascido de mulher (Gl 4.4), para esmagar a cabeça da serpente (Gn 3.15) e torná-lo bem-aventurado [2].

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[1] Gn 3.9; [2] Gn 22.18; Is 7.14; Jo 1.14; Jo 5.46; Jo 7.42; At 13.32, 33; Rm 1.2, 3; Gl 3.16; 2Tm 2.8; Hb 7.14.

 

Artigo 18: A encarnação do Filho de Deus

Confessamos, portanto, que Deus cumpriu a promessa que fizera aos patriarcas pela boca de seus santos profetas [1] quando, no tempo determinado por ele [2], enviou seu próprio Filho unigênito e eterno ao mundo, que assumiu a forma de servo e nasceu à semelhança de homem (Fp 2.7). Ele verdadeiramente assumiu a natureza humana verdadeira com todas as suas fraquezas [3], sem pecado [4]. Foi concebido no ventre da bendita virgem Maria pelo poder do Espírito Santo e não pela ação do homem [5]. Para que fosse verdadeiramente homem ele não apenas assumiu a natureza humana quanto ao corpo, mas também uma alma humana verdadeira. Pois, assim como o corpo e a alma estavam perdidos, foi necessário que assumisse os dois para que ambos fossem salvos. Por isso confessamos (contrários à heresia dos Anabatistas que negam que Cristo assumiu a natureza carnal da sua mãe) que Cristo partilhou da carne e do sangue dos filhos (Hb 2.14).

Ele é da descendência de Davi (At 2.30); nascido da descendência de Davi segundo a carne (Rm 1.3); fruto do ventre da virgem Maria (Lc 1.42); nascido de mulher (Gl 4.4); um renovo de Davi (Jr 33.15); rebento do tronco de Jessé (Is 11.1); procedente da tribo de Judá (Hb 7.14); descendente dos judeus segundo a carne (Rm 9.5); da semente de Abraão [6], pois o Filho estava ligado à descendência de Abraão. Por isso ele tinha de ser igual aos seus irmãos em todos os aspectos, contudo sem pecado (Hb 2.16, 17; Hb 4.15). Assim ele é verdadeiramente o nosso Emanuel, isso é, Deus conosco (Mt 1.23).

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[1] Gn 26.4; 2Sm 7.12-16; Sl 132.11; Lc 1.55; At 13.23; [2] Gl 4.4; [3] 1Tm 2.5; 1Tm 3.16; Hb 2.14; [4] 2Co 5.21; Hb 7.26; 1Pe 2.22; [5] Mt 1.18; Lc 1.35; [6] Gl 3.16.

 

Artigo 19: As duas naturezas na única pessoa de Cristo

Cremos que, por essa concepção, a pessoa do Filho de Deus está inseparavelmente unida e ligada à natureza humana [1], de modo que não há dois filhos de Deus, nem duas pessoas, mas duas naturezas unidas em uma única pessoa. Cada uma delas mantém as suas características distintas: a sua natureza Divina permaneceu sempre não-criada, sem começo de dias nem fim de vida (Hb 7.3), preenchendo céu e terra [2]. A sua natureza humana não perdeu as suas características: tem começo de dias e continua criada; é finita e conserva todos os atributos de um corpo verdadeiro [3]. No entanto, pela sua ressurreição, concedeu ele imortalidade à sua natureza humana, não havendo modificado a realidade dela [4], pois a nossa salvação e ressurreição dependem também da realidade do seu corpo [5].

Contudo, essas duas naturezas estão tão intimamente unidas em uma única pessoa que não foram separadas nem mesmo por sua morte. Ao morrer, portanto, ele rendeu nas mãos do Pai um espírito humano verdadeiro que se apartou do seu corpo [6]. Entretanto, sua divindade permaneceu sempre unida à sua natureza humana, até mesmo quando ele jazia na sepultura [7]. A natureza divina sempre esteve presente nele, exatamente como quando era uma criancinha, embora por algum tempo não estivesse manifestado.

Por isso confessamos que ele é verdadeiro Deus e verdadeiro homem: verdadeiro Deus a fim de vencer a morte pelo seu poder; e verdadeiro homem a fim de morrer por nós segundo as fraquezas da sua carne.

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[1] Jo 1.14; Jo 10.30; Rm 9.5; Fp 2.6,7; [2] Mt 28.20; [3] 1Tm 2.5; [4] Mt 26.11; Lc 24.39; Jo 20.25; At 1.3,11; At 3.21; Hb 2.9; [5] 1Co 15.21; Fp 3.21; [6] Mt 27.50; [7] Rm 1.4.

 

Artigo 20: A justiça e misericórdia de Deus em Cristo

Cremos que Deus, que é perfeitamente misericordioso e justo, enviou o seu Filho para assumir a mesma natureza em que se cometera a desobediência [1], para fazer satisfação nessa mesma natureza e suportar o castigo do pecado através de seu sofrimento e morte mui amargos [2]. Deus, assim, manifestou a sua justiça contra o seu Filho quando colocou sobre ele as nossas iniquidades [3] e sobre nós, que éramos culpados e merecedores da condenação eterna, derramou a sua bondade e misericórdia. Por amor perfeitíssimo ele entregou o seu Filho para morrer por nós e o ressuscitou para a nossa justificação [4], a fim de que por ele possamos obter imortalidade e vida eterna.

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[1] Rm 8.3; [2] Hb 2.14; [3] Rm 3.25, 26; Rm 8.32; [4] Rm 4.25.

Artigo 21: A satisfação de Cristo, nosso Sumo Sacerdote

Cremos que Jesus Cristo foi confirmado por juramento para ser Sumo Sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque [1]. Ele se apresentou em nosso lugar diante de seu Pai, aplacando-lhe a ira e satisfazendo-o totalmente [2] pela oferta de si mesmo sobre o madeiro da cruz, onde verteu o seu precioso sangue para a purificação dos nossos pecados [3], conforme predisseram os profetas [4]. Pois está escrito: “O castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” [5]; “Como cordeiro foi levado ao matadouro”; “Foi contado com os transgressores” (Is 53.5, 7, 12) [6] e condenado como um criminoso por Pôncio Pilatos, que, no entanto, havia antes declarado a sua inocência [7]. Ele restituiu o que não havia roubado (Sl 69.4). Ele morreu como justo pelos injustos (1Pe 3.18) [8]. Ele sofreu no corpo e na alma [9], sentindo o castigo terrível causado pelos nossos pecados, e o “seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra” (Lc 22.44). Finalmente ele exclamou: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.46). Tudo isso ele suportou para o perdão dos nossos pecados. Por essa causa dizemos, exatamente como Paulo, que nada sabemos “senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1Co 2.2).

Consideramos “tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus” nosso Senhor (Fp 3.8). Nas suas feridas encontramos consolação e não temos necessidade de buscar ou de inventar qualquer outro meio de reconciliação com Deus senão esse único sacrifício, ofertado uma única vez, através do qual os que crêem foram aperfeiçoados para sempre (Hb 10.14) [10]. Por isso o anjo de Deus O chamou de Jesus, isto é, salvador, “porque ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mt 1.21) [11].

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[1] Sl 110.4; Hb 7.15-17; [2] Rm 4.25; Rm 5.8, 9; Rm 8.32; Gl 3.13; Cl 2.14; Hb 2.9, 17; Hb 9.11-15; [3] At 2.23; Fp 2.8; 1Tm 1.15; Hb 9.22; 1Pe 1.18, 19; 1Jo 1.7; Ap 7.14; [4] Lc 24.25-27; Rm 3.21; 1Co 15.3; [5] 1Pe 2.24; [6] Mc 15.28; [7] Jo 18.38; [8] Rm 5.6; [9] Sl 22.15; [10] Hb 7.26-28; Hb 9.24-28; [11] Lc 1.31; At 4.12.

 

Artigo 22: A nossa justificação pela fé em Cristo

 

Cremos que para podermos obter o verdadeiro conhecimento desse grande mistério, o Espírito Santo acende em nossos corações uma fé verdadeira [1]. Fé que abraça Jesus Cristo com todos os seus méritos, que se apropria dele e nada busca além dele mesmo [2]. Pois das duas, uma: ou em Jesus Cristo não há tudo de que precisamos para a nossa salvação, ou tudo se acha nele e então aquele que possui Jesus Cristo pela fé, tem plena salvação [3]. É, portanto, uma terrível blasfêmia afirmar que Cristo não é suficiente, mas que se faz necessário algo além dele pois resultaria assim que Cristo é apenas um meio salvador.

Por isso, dizemos exata e corretamente como Paulo que somos justificados pela fé, independentemente das obras da lei (Rm 3.28) [4]. Contudo, não entendemos isto, estritamente falando, com se a própria fé nos justificasse [5], pois ela é apenas o instrumento com que abraçamos Cristo, justiça nossa. Ele nos imputa todos os seus méritos e todas as obras santas que têm feito por nós e em nosso lugar [6]. Assim, pois, Jesus Cristo é a nossa justiça e a fé é o instrumento que nos mantém com ele na comunhão de todos os seus benefícios. Quando estes se tornaram nossos, são mais do que suficientes para nos absolver dos nossos pecados.

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[1] Jo 16.14; 1Co 2.12; Ef 1.17, 18; [2] Jo 14.6; At 4.12; Gl 2.21; [3] Sl 32.1; Mt 1.21; Lc 1.77; At 13.38, 39; Rm 8.1; [4] Rm 3.19-4.8; Rm 10.4-11; Gl 2.16; Fp 3.9; Tt 3.5; [5] 1Co 4.7; [6] Jr 23.6; Mt 20.28; Rm 8.33; 1Co 1.30, 31; 2Co 5.21; 1Jo 4.10.

 

Artigo 23: A nossa justiça diante de Deus

 

Cremos que a nossa bem-aventurança se fundamenta no perdão dos nossos pecados por causa de Jesus Cristo, e que nisso consiste a nossa justiça diante de Deus [1], segundo nos ensinam Davi e Paulo. Eles declaram que é “bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras” (Rm 4.6; Sl 32.1). O apóstolo também diz que somos “justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3.24) [2].

Portanto sempre nos apegamos a esse fundamento firme. Damos toda a glória a Deus [3], humilhamo-nos diante dele e reconhecemos aquilo que realmente somos. Nada temos que reivindicar por causa de nós mesmos nem por mérito nosso [4], mas dependemos e descansamos somente na obediência de Jesus Cristo crucificado [5]. Esta obediência é nossa quando cremos nele [6].

Ela é o suficiente para cobrir todas as nossas iniquidades e, nos conceder a ousadia de nos aproximarmos de Deus, livrando as nossas consciências de temor, terror e assombro, de modo a não seguirmos o exemplo do nosso primeiro pai, Adão, que trêmulo tentou se esconder e se cobrir de folhas de figueira [7]. Certamente que seríamos consumidos se tivéssemos que aparecer diante de Deus confiados em nós mesmos (por pouco que fosse), ou em qualquer outra criatura (ai de nós!) [8]. Por isso todos devem dizer com Davi: ó Senhor, “não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não há justo nenhum vivente” (Sl 143.2).

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[1] 1Jo 2.1; [2] 2Co 5.18, 19; Ef 2.8; 1Tm 2.6; [3] Sl 115.1; Ap 7.10-12; [4] 1Co 4.4; Tg 2.10; [5] At 4.12; Hb 10.20; [6] Rm 4.23-25; [7] Gn 3.7; Sf 3.11; Hb 4.16; 1Jo 4.17-19; [8] Lc 16.15; Fp 3.4-9.

 

Artigo 24: A nossa santificação e as boas obras

 

Cremos que esta fé verdadeira operada no homem pelo ouvir da Palavra de Deus e pelo agir do Espírito Santo [1], regenera-o e torna-o um novo homem [2]; faz com que viva uma vida nova e o liberta da escravidão do pecado [3]. Por isso não é verdade que essa fé justificadora o torna indiferente para viver uma vida santa e boa [4]. Ao contrário, sem ela ninguém jamais poderia fazer nada por amor a Deus [5], mas somente por amor a si mesmo ou por medo da condenação. É, portanto, impossível que essa fé santa seja inoperante no homem, porque não falamos de uma fé vã, mas da que a Escritura chama de “a fé que atua pelo amor” (Gl 5.6). Esta fé leva o homem a exercitar-se nas obras que Deus ordenou em sua Palavra. As boas obras, que procedem da boa raiz da fé, são boas e aceitáveis à vista de Deus, porque são todas santificadas pela sua graça. Apesar disso elas não cooperam para a nossa justificação, porque é pela fé em Cristo que somos justificados, antes mesmo de fazermos quaisquer boas obras [6]. De outro modo essas obras não poderiam ser boas, assim como o fruto da árvore não pode ser bom, se a árvore não for boa [7].

Por isso que praticamos boas obras, não para termos mérito; pois, que mérito podemos ter? Antes, somos devedores a Deus pelas boas obras que praticamos [8], e não ele a nós, “porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2.13). Tenhamos sempre em mente o que está escrito: “Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer” (Lc 17.10). Contudo, não negamos que Deus recompensa as boas obras [9], mas é pela sua graça que ele coroa os seus dons.

Além disso, embora pratiquemos boas obras não baseamos nelas a nossa salvação. Pois nada podemos fazer, por mínimo que seja, que não o contaminemos com a nossa carne e que não seja digno de punição [10]. Ainda que pudéssemos apresentar uma única boa obra, a mera lembrança de um único pecado bastaria para Deus a rejeitar [11]. Assim, estaríamos sempre em dúvida, lançados de um lado para o outro sem certeza alguma e com as nossas pobres consciências sempre atormentadas se não confiássemos no mérito do sofrimento e da morte do nosso salvador [12].

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[1] At 16.14; Rm 10.17; 1Co 12.3; [2] Ez 36.26, 27; Jo 1.12, 13; Jo 3.5; Ef 2.4-6; Tt 3.5; 1Pe 1.23; [3] Jo 5.24; Jo 8.36; Rm 6.4-6; 1Jo 3.9; [4] Gl 5.22; Tt 2.12; [5] Jo 15.5; Rm 14.23; 1Tm 1.5; Hb 11.4, 6; [6] Rm 4.5; [7] Mt 7.17; [8] 1Co 1.30, 31. 1Co 4.7; Ef 2.10; [9] Rm 2.6, 7; 1Co 3.14; 2Jo .8; Ap 2.23; [10] Rm 7.21; [11] Tg 2.10; [12] Hc 2.4; Mt 11.28; Rm 10.11.

 

Artigo 25: Cristo, o cumprimento da lei

Cremos que as cerimônias e os símbolos da lei terminaram com a vinda de Cristo, e que todas as sombras foram cumpridas [1], de modo que o uso delas deve ser abolido entre os cristãos. Contudo, a verdade e a substância delas permanecem para nós em Jesus Cristo, em quem foram cumpridas [2].

No entanto, ainda usamos os testemunhos tirados da Lei e dos Profetas, para nos confirmar nas doutrinas do evangelho e para ordenarmos a nossa vida com toda honradez, conforme a vontade de Deus e para a sua glória [3].

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[1] Mt 27.51; Rm 10.4; Hb 9.9, 10; [2] Mt 5.7; Gl 3.24; Cl 2.17; [3] Rm 13.8-10; Rm 15.4; 2Pe 1.19; 2Pe 3.2.

 

Artigo 26: A intercessão de Cristo

 

Cremos que não temos acesso a Deus senão pelo único mediador e advogado, Jesus Cristo, o Justo [2]. Com esse propósito ele se tornou homem, unindo as duas naturezas, divina e humana, para que nós homens não sejamos impedidos, mas tenhamos acesso à majestade divina [3]. Mas, este Mediador que o Pai constituiu entre ele e nós, não nos deve amedrontar por sua grandeza, a ponto de fazer-nos procurar um outro, conforme a nossa imaginação. Pois não há ninguém, nem no céu, nem na terra, entre as criaturas, que nos ame mais que Jesus Cristo [4]. “Pois ele, subsistindo em forma de Deus, [...] a si mesmo se esvaziou tornando-se em semelhança de homem, e assumindo a forma de servo” por nós (Fp 2.6, 7), e “em todas as coisas tornou-se semelhante a seus irmãos” (Hb 2.17). Contudo, se fôssemos procurar um outro intercessor, acaso encontraríamos algum que nos amasse mais do que aquele que entregou a sua vida por nós, mesmo quando éramos seus inimigos (Rm 5.8, 10)? Se tivéssemos que procurar alguém que tivesse autoridade e poder, quem os teria mais do que ele, que está assentado à direita do Pai [5] e que tem toda a autoridade no céu e na terra (Mt 28.18)? E quem será ouvido antes do que o próprio bem-amado Filho de Deus? [6].

Foi, portanto, a total falta de confiança que introduziu o costume de desonrar os santos, em vez de honrá-los, ao fazer o que eles mesmos jamais fizeram nem exigiram. Pelo contrário, como registram os seus escritos, sempre rejeitaram tal honra, como era seu dever [7]. Aqui não se deve alegar que não somos dignos, pois não apresentamos as nossas orações em razão de nossa própria dignidade, mas somente pela excelência e a dignidade de Jesus Cristo [8], cuja justiça é a nossa, mediante a fé [9].

Por isso, pelo bom motivo de extrair de nós esse medo tolo, ou antes essa falta de confiança, o apóstolo nos diz que convinha a Jesus Cristo que “em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel Sumo Sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo. Pois, naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados” (Hb 2.17, 18). E depois, para nos encorajar mais ainda a procurá-lo, ele nos diz: “Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os céus, conservemos firmes a nossa confissão. Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hb 4.14-16) [10]. A mesma carta diz: “Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus [...] aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé etc.” (Hb 10.19, 22). Cristo, “no entanto, porque continua para sempre, tem o seu sacerdócio imutável. Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (Hb 7.24, 25) [11]. Então, que mais é necessário, visto que o próprio Cristo diz: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6)? Por que procuraríamos outro advogado, visto que aprouve a Deus dar-nos seu Filho como o nosso advogado? Não o abandonemos por um outro que jamais haveremos de encontrar. Pois quando Deus o deu a nós, bem sabia que éramos pecadores.

Portanto, segundo o mandamento de Cristo, clamamos ao Pai celestial mediante Cristo, nosso único mediador [12], como nos foi ensinado na oração do Senhor [13]. E temos a certeza de que o Pai nos concederá tudo o que pedirmos em seu nome (Jo 16.23) [14].

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[1] 1Tm 2 5; [2] 1Jo 2.1; [3] Ef 3.12; [4] Mt 11.28; Jo 15.13; Ef 3.19; 1Jo 4.10; [5] Hb 1.3; Hb 8.1; [6] Mt 3.17; Jo 11.42; Ef 1.6; [7] At 10.26; At 14.15; [8] Jr 17.5, 7; At 4.12; [9] 1Co 1.30; [10] Jo 10.9; Ef 2.18; Hb 9.24; [11] Rm 8.34; [12] Hb 13.15; [13] Mt 6.9-13; Lc 11.2-4; [14] Jo 14.13.

 

Artigo 27: A igreja cristã católica ou universal

 

Cremos e professamos uma única igreja católica ou universal [1], que é a santa congregação e assembleia [2] dos verdadeiros crentes em Cristo, que aguardam a sua total salvação em Jesus Cristo [3], lavados por seu sangue e santificados e selados pelo Espírito Santo [4].

Essa igreja existe desde o princípio do mundo e existirá até o final, pois Cristo é Rei Eterno que não pode ficar sem súditos [5]. Essa santa igreja é preservada por Deus contra o furor do mundo inteiro [6], mesmo que por um tempo pareça, aos olhos do homem, mui pequena e quase extinta [7]. Assim, no perigoso reino de Acabe, o Senhor preservou para si sete mil pessoas que não dobraram os joelhos a Baal [8].

Além disso, esta santa igreja não está confinada nem limitada a um lugar em particular nem a pessoas específicas, mas está espalhada e dispersa pelo mundo inteiro [9]. Contudo, está integrada e unida, de coração e vontade, em um único e mesmo Espírito, pelo poder da fé [10].

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[1] Gn 22.18; Is 49.6; Ef 2.17-19; [2] Sl 111.1; Jo 10.14, 16; Ef 4.3-6; Hb 12.22, 23; [3] Jl 2.32; At 2.21; [4] Ef 1.13; Ef 4.30; [5] 2Sm 7.16; Sl 89.36; Sl 110.4; Mt 28.18, 20; Lc 1.32; [6] Sl 46.5; Mt 16.18; [7] Is 1.9; 1Pe 3.20; Ap 11.7; [8] 1Rs 19.18; Rm 11.4; [9] Mt 23.8; Jo 4.21-23; Rm 10.12, 13; [10] Sl 119.63; At 4.32; Ef 4.4.

 

Artigo 28: O dever de juntar-se à Igreja

 

Cremos que essa santa assembleia e congregação é a assembleia dos remidos e, que fora dela não há salvação [1]; por isso ninguém, seja qual for a sua posição ou reputação, deve se retirar dela e contentar-se com sua própria pessoa. Todos, porém, são obrigados a se juntar e a se unir a ela [2], conservando a unidade da Igreja. Devem se submeter à sua instrução e disciplina [3], curvar suas cabeças sob o jugo de Jesus Cristo [4], e servir a edificação dos irmãos [5], conforme os talentos que Deus lhes concedeu como membros do mesmo corpo [6].

Para que isso se cumpra eficazmente, é dever de todos os crentes, segundo a Palavra de Deus, se separar dos que não pertencem à Igreja [7] e se juntar a essa assembleia [8] em todo lugar onde Deus a tenha estabelecido. Devem fazê-lo mesmo que governos, leis e autoridades lhe sejam contrários, e mesmo que sejam punidos fisicamente ou com a morte [9].

Portanto, todo o que se aparta da Igreja ou não se junta a ela contraria à ordenança de Deus.

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[1] Mt 16.18, 19; At 2.47; Gl 4.26; Ef 5.25-27; Hb 2.11, 12; Hb 12.23; [2] 2Cr 30.8; Jo 17.21; Cl 3.15; [3] Hb 13.17; [4] Mt 11.28-30; [5] Ef 4.12; [6] 1Co 12.7, 27; Ef 4.16; [7] Nm 16.23-26; Is 52.11, 12; At 2.40; Rm 16.17; Ap 18.4; [8] Sl 122.1; Is 2.3; Hb 10.25; [9] At 4.19, 20.

 

Artigo 29: As marcas da verdadeira e da falsa igreja

 

Cremos que devemos distinguir, pela Palavra de Deus, com diligência e muito cuidado, qual é a verdadeira igreja, pois todas as seitas que há hoje no mundo arrogam para si o nome de igreja [1]. Não falamos aqui dos hipócritas que se misturam aos fiéis da igreja, pois embora participem visivelmente da igreja não fazem parte dela [2]. Mas falamos do corpo e da comunhão da verdadeira igreja que se deve distinguir daquelas seitas que se dizem igreja.

A Igreja verdadeira é reconhecida pelas seguintes marcas:

Ela pratica a pura pregação do evangelho [3]; mantém a pura administração dos sacramentos segundo Cristo os instituiu [4]; exercita a disciplina na igreja para a correção e punição dos pecados [5]. Em síntese, governa a si mesma segundo a pura Palavra de Deus [6], rejeita tudo o que lhe for contrário [7] e tem Jesus Cristo como único cabeça [8]. Assim se reconhece com certeza a verdadeira Igreja, e ninguém tem o direito de se separar dela.

Os que pertencem à igreja devem ser reconhecidos pelas marcas dos cristãos: eles crêem em Jesus Cristo como o único salvador; [9] fogem do pecado e buscam por justiça; [10] amam o verdadeiro Deus e o seu próximo [11] sem se desviar para a direita nem para a esquerda; e crucificam a carne com as obras delas [12].

No entanto, ainda permanece neles uma grande fraqueza à qual combatem, pelo Espírito, todos os dias das suas vidas [13]. Apelam continuamente para o sangue, sofrimento, morte e obediência de Jesus Cristo no qual têm a remissão de seus pecados, por meio da fé nele [14].

A falsa igreja, contudo, atribui mais autoridade a si mesma e às suas ordenanças do que à Palavra de Deus; não quer se submeter ao jugo de Cristo [15]; não administra os sacramentos conforme Cristo ordenou em sua Palavra, mas acrescenta e subtrai deles o tanto que lhe convém; baseia-se mais nos homens do que em Jesus Cristo; persegue aos que vivem de maneira santa, segundo a Palavra de Deus, e aos que lhe repreendem os seus pecados, cobiça e idolatrias [16].

Pela distinção uma da outra, é fácil conhecer essas duas igrejas.

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[1] Ap 2.9; [2] Rm 9.6; [3] Gl 1.8; 1Tm 3.15; [4] At 19.3-5; 1Co 11.20-29; [5] Mt 18.15-17; 1Co 5.4, 5, 13; 2Ts 3.6, 14; Tt 3.10; [6] Jo 8.47; Jo 17.20; At 17.11; Ef 2.20; Cl 1.23; 1Tm 6.3; [7] 1Ts 5.21; lTm 6.20; Ap 2.6; [8] Jo 10.14; Ef 5.23; CL 1.18; [9] Jo 1.12; 1Jo 4.2; [10] Rm 6.2; Fp 3.12; [11] 1Jo 4.19-21; [12] Gl 5.24; [13] Rm 7.15; GL 5.17; [14] Rm 7.24, 25; 1Jo 1.7-9; [15] At 4.17, 18; 2Tm 4.3, 4; 2Jo .9; [16] Jo 16.2.

 

Artigo 30: O governo da igreja

 

Cremos que a verdadeira igreja deve ser governada conforme a ordem espiritual que o nosso Senhor nos ensinou em sua Palavra [1]. Deve haver ministros ou pastores para pregarem a Palavra de Deus e para administrarem os sacramentos [2]; deve haver também presbíteros [3] e diáconos [4] para formarem com os pastores o conselho da igreja [5]. Assim preservam eles a verdadeira religião e zelam para que a sã doutrina siga o seu curso, para que os maus sejam disciplinados de forma espiritual e sejam contidos e também para que os pobres e todos os aflitos sejam socorridos e consolados segundo as suas necessidades [6]. Assim tudo será bem-feito e com boa ordem quando tais homens fiéis são escolhidos [7] segundo a regra que o apóstolo Paulo deu a Timóteo [8].

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[1] At 20.28; Ef 4.11, 12; 1Tm 3.15; Hb 13.20, 21; [2] Lc 1.2; Lc 10.16; Jo 20.23; Rm 10.14; 1Co 4.1; 2Co 5.19, 20; 2Tm 4.2; [3] At 14.23; Tt 1.5; [4] 1Tm 3.8-10; [5] Fp 1.1; 1Tm 4.14; [6] At 6.1-4; Tt 1.7-9; [7] 1Co 4.2; [8] 1Tm 3.

Artigo 31: Os oficiais da igreja

Cremos que os ministros da Palavra de Deus, os presbíteros e os diáconos devem ser escolhidos para os seus ofícios mediante eleição legítima pela igreja, com oração e em boa ordem, como estipula a Palavra de Deus [1]. Por isso, cada um deve cuidar para não se intrometer no ofício de modo impróprio; pois deve esperar pelo momento quando ele seja chamado por Deus, para obter o testemunho da sua vocação, por ser certo e seguro que esta é do Senhor [2]. Os ministros da Palavra têm igual poder e autoridade onde quer que estejam, pois todos eles são servos de Jesus Cristo [3], o único bispo universal e o único cabeça da igreja [4]. E para que essa sagrada ordenança de Deus não seja violada nem desprezada, instamos a todos para que nutram especial estima pelos ministros da Palavra e presbíteros da igreja em razão da obra que realizam [5], e que estejam em paz com eles, o tanto quanto possível, sem murmurações ou contendas.

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[1] At 1.23, 24; At 6.2, 3; [2] At 13.2; 1Co 12.28; 1Tm 4.14; 1Tm 5.22; Hb 5.4; [3] 2Co 5.20; 1Pe 5.1-4; [4] Mt 23.8, 10; Ef 1.22; Ef 5.23; [5] 1Ts 5.12, 13; 1Tm 5.17; Hb 13.17.

 

Artigo 32: A ordem e a disciplina da igreja

 

Cremos que, embora seja útil e bom que os governantes da Igreja entre si estabeleçam e conservem determinada ordem para manter o corpo da Igreja, no entanto devem se guardar de desviar-se daquilo que o nosso único mestre, Cristo, nos ordenou [1]. Por isso rejeitamos todas as invenções e leis humanas introduzidas no culto a Deus que, de qualquer modo, obriguem ou forcem as consciências [2]. Só aceitamos aquilo que é apropriado para preservar e promover a harmonia e unidade e para manter tudo em obediência a Deus [3]. Para este fim, disciplina e excomunhão devem ser exercidas de acordo com a Palavra de Deus [4].

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[1] 1Tm 3.15; [2] Is 29.13; Mt 15.9; Gl 5.1; [3] 1Co 14.33; [4] Mt 16.19; Mt 18.15-18; Rm 16.17; 1Co 5; 1Tm 1.20.

 

Artigo 33: Os sacramentos

 

Cremos que o nosso Deus gracioso, atento à nossa insensibilidade e fraqueza, ordenou os sacramentos para selar em nós as suas promessas, para servirem como penhor da sua boa-vontade e graça para conosco, e para alimentarem e sustentarem a nossa fé [1]. Ele os acrescentou à Palavra do evangelho [2] para apresentarem melhor diante dos nossos sentidos externos aquilo que ele nos declara em sua Palavra e o que faz interiormente em nossos corações; confirmando em nós, assim, a salvação que nos concede. Os sacramentos são os sinais e os selos visíveis de algo interior e invisível, por meio dos quais Deus opera em nós pelo poder do Espírito Santo [3]. Por isso, esses sinais não são vãos nem vazios para nos enganar, porque Jesus Cristo é a verdade deles; sem Cristo, não seriam nada.

Além disso, nos contentamos com o número dos sacramentos que Cristo, nosso mestre, nos ordenou: sendo somente dois, a saber, o sacramento do batismo [4] e da santa ceia de Jesus Cristo [5].

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[1] Gn 17.9-14; Êx 12; Rm 4.11 [2]. Mt 28.19; Ef 5.26; [3] Rm 2.28, 29; Cl 2.11, 12; [4] Mt 28.19; [5] Mt 26.26-28; 1Co 11.23-26.

 

Artigo 34: O sacramento do batismo

 

Cremos e confessamos que Jesus Cristo, que é o fim da lei (Rm 10.4), ao derramar o seu sangue pôs fim a todo e qualquer outro derramamento de sangue que se poderia ou deveria fazer como expiação ou satisfação pelos pecados. Ele aboliu a circuncisão, que envolvia sangue, e instituiu em lugar dela o sacramento do batismo [1]. Pelo batismo somos recebidos na igreja de Deus e separados de todas outras pessoas e falsas religiões, para estarmos totalmente comprometidos com ele [2], de quem carregamos a marca e o emblema, que nos serve como testemunho de que ele será eternamente o nosso Deus e Pai gracioso.

Por isso, ele ordenou que todos os seus sejam batizados com água pura, “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19): dando-nos a entender com isso que assim como a água, derramada em nós, lava completamente a sujeira do corpo e assim como a água é vista no corpo do batizado quando derramada nele; o sangue de Cristo, pelo Espírito Santo, faz a mesma coisa no interior da alma [3]. Ele lava e limpa as nossas almas do pecado [4] e nos regenera de filhos da ira para filhos de Deus [5]. Isso não é produzido pela água em si mesma [6] mas pelo aspergir do precioso sangue do Filho de Deus [7], que é o nosso Mar Vermelho [8], que precisamos atravessar para escapar da tirania de Faraó — do diabo — para entrarmos na Canaã espiritual.

Assim os ministros, por sua parte, dão-nos o sacramento e aquilo que é visível, mas o nosso Senhor nos dá aquilo que o sacramento significa, quer dizer, os dons invisíveis e a graça. O Senhor lava, purifica e limpa as nossas almas de toda imundície e iniquidade [9], renova os nossos corações e os enche de toda consolação, dá-nos a verdadeira certeza da sua bondade paternal, reveste-nos de nova natureza, e despe-nos da velha natureza com todas as suas obras [10].

Cremos, contudo, que aquele que almeja à vida eterna deve ser batizado uma vez com um só batismo [11]. O batismo nunca deve ser repetido, pois não podemos nascer duas vezes. Além disso, o batismo não nos beneficia apenas quando a água está em nós e quando o recebemos, mas por toda a nossa vida. Por essa causa rejeitamos o erro dos anabatistas, que não se contentam com o batismo recebido uma única vez, e que também condenam o batismo dos filhos pequenos dos crentes. Cremos que essas crianças devem ser batizadas e seladas com o sinal da aliança, assim como os bebês em Israel eram circuncidados com base nas mesmas promessas que agora são feitas aos nossos filhos [12]. De fato, Cristo derramou o seu sangue para purificar os filhos dos crentes do mesmo modo que o derramou pelos adultos [13]. Por isso, devem eles receber o sinal e o sacramento daquilo que Cristo fez por eles, assim como o Senhor ordenou na lei que fosse oferecido um cordeiro logo após o nascimento dos filhos [14], que era o sacramento da paixão e morte de Jesus Cristo. Como o batismo tem para os nossos filhos o mesmo significado que a circuncisão tinha para o povo de Israel, Paulo chama o batismo de “circuncisão de Cristo” (Cl 2.11).

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[1] Cl 2.11; [2] Êx 12.48; 1Pe 2.9; [3] Mt 3.11; 1Co 12.13; [4] At 22.16; Hb 9.14; 1Jo 1.7; Ap 1.5b; [5] Tt 3.5; [6] 1Pe 3.21; [7] Rm 6.3; 1Pe 1.2; 1Pe 2.24; [8] 1Co 10.1-4; [9] 1Co 6.11. Ef 5.26; [10] Rm 6.4; Gl 3.27; [11] Mt 28.19; Ef 4.5; [12] Gn 17. 10-12; Mt 19.14; At 2.39; [13] 1Co 7.14; [14] Lv 12.6.

 

Artigo 35: O sacramento da ceia do Senhor

Cremos e confessamos que o nosso salvador Jesus Cristo instituiu o sacramento da Santa Ceia [1] para nutrir e sustentar aos que ele já regenerou e incorporou em sua família, que é a sua Igreja.

Aqueles que nasceram de novo possuem duas vidas diferentes [2]. Uma delas é física e temporal, recebida no primeiro nascimento é comum a todos os homens; a outra é espiritual e celestial e lhes foi dada no segundo nascimento como resultado da palavra do evangelho [3], na comunhão do corpo de Cristo. Essa vida não é comum a todos os homens, mas somente aos eleitos de Deus.

Para a manutenção da vida física e terrena Deus estabeleceu o pão material e terreno. Esse pão é comum a todos, assim como também a vida é comum a todos. Para a manutenção da vida espiritual e celestial, que os crentes possuem, ele lhes enviou o pão vivo que desceu do céu (Jo 6.51) que é Jesus Cristo [4]. Este nutre e sustenta a vida espiritual dos crentes [5] quando é comido por eles, isso é, ao ser apropriado e recebido espiritualmente pela fé [6].

Para nos figurar o pão espiritual e celestial, Cristo instituiu para nós o pão visível e terreno como sacramento do seu corpo e, o vinho como sacramento do seu sangue [7]. Ele nos testifica que tão realmente que tomamos e seguramos em nossas mãos o sacramento, e o comemos e bebemos com as nossas bocas, sustentando assim a nossa vida física, assim também, com certeza recebemos pela fé [8] — mão e boca da nossa alma — em nossas almas, para a sustentação da nossa vida espiritual, o verdadeiro corpo e o verdadeiro sangue de Cristo, nosso único salvador.

Não há a menor dúvida de que Cristo não nos recomendou os seus sacramentos em vão. Portanto ele opera em nós tudo aquilo que para nós ele representa nesses santos sinais. Não entendemos o modo como isso se realiza, exatamente como também não compreendemos as atividades ocultas do Espírito de Deus [9]. Contudo, não nos enganamos ao dizermos que o que comemos e bebemos é o corpo verdadeiro e natural, e o sangue verdadeiro de Cristo. Todavia, não comemos com a boca, mas em espírito pela fé. Desse modo Jesus Cristo permanece sempre assentado à destra de Deus seu Pai no céu [10], porém ele não deixa de nos comunicar a si mesmo pela fé. Esse banquete é uma mesa espiritual na qual Cristo nos torna participantes de si mesmo, com todos os seus benefícios, e nos concede a graça de gozar dele mesmo e dos méritos do seu sofrimento e morte [11].

Ele nutre, fortalece e consola as nossas almas pobres e desoladas pelo comer da sua carne, e as refresca e renova pelo beber do seu sangue. Embora os sacramentos estejam unidos com a realidade da qual são um sinal, nem todos recebem ambos [12]. O ímpio certamente toma os sacramentos para a condenação dele, mas não recebe a verdade do sacramento, assim como Judas e Simão o mago, receberam o sacramento sem, contudo, receberem a Cristo, que é aquilo que o sacramento representa [13]. Cristo é comunicado somente aos crentes [14].

Finalmente, recebemos esse santo sacramento na congregação do povo de Deus [15] com humildade e reverência, enquanto celebramos com ações de graça a lembrança sagrada da morte de Cristo, nosso salvador, e confessamos a nossa fé e religião cristã [16]. Por isso, ninguém pode vir a essa mesa sem cuidadoso autoexame, para que, ao comer desse pão e beber desse cálice, não coma e beba juízo sobre si mesmo (1Co 10.28, 29). Em resumo, o uso desse santo sacramento nos leva a amar fervorosamente a nosso Deus e a nosso próximo. Por essa razão rejeitamos como profanação todos os acréscimos e invenções malditas que os homens acrescentaram e misturaram aos sacramentos. Declaramos que devemos estar contentados com a ordenação que Cristo e seus apóstolos ensinaram e falar disso da mesma maneira que eles falaram.

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[1] Mt 26.26-28; Mc 14.22-24; Lc 22.19, 20; 1Co 11.23-26; [2] Jo 3.5, 6; [3] Jo 5.25; [4] Jo 6.48-51; [5] Jo 6.63; Jo 10.10b; [6] Jo 6.40, 47; [7] Jo 6.55; 1Co 10.16; [8] Ef 3.17; [9] Jo 3.8; [10] Mc 16.19; At 3.21; [11] Rm 8.32; 1Co 10.3, 4; [12] 1Co 2.14; [13] Lc 22.21, 22; At 8.13, 21; [14] Jo 3.36; [15] At 2.42; At 20.7; [16] At 2.46; 1Co 11.26.

 

Artigo 36: O governo civil

 

Cremos que o nosso Deus gracioso, por causa da depravação do gênero humano, estabeleceu reis, governos e oficiais civis [1]. Ele quer que o mundo seja governado por leis e planos de governo [2], para restringir os excessos dos homens e para que tudo transcorra em boa ordem entre eles [3]. Para isso colocou ele a espada na mão das autoridades para castigar os malfeitores e proteger os que praticam o bem (Rm 13.4). Eles têm por ofício não apenas restringir e conservar a boa ordem pública, mas também a proteção da igreja e do seu ministério para que toda idolatria e falso culto sejam removidos e impedidos*, o reino de Cristo possa vir, a Palavra do evangelho seja pregada em toda a parte [4] e Deus seja honrado e servido por todos — como ele determina em sua Palavra.

Além disso, cada um, independente da sua qualidade, condição ou classe é obrigado a submeter-se aos oficiais civis, pagar os impostos, respeitá-los e honrá-los, e obedecê-los em tudo aquilo que [5] não contrarie a Palavra de Deus [6]. Devemos orar por eles para que Deus os dirija em todos os seus caminhos e para que “para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito” (1Tm 2.1, 2). Em razão disso reprovamos os Anabatistas e outros rebeldes, e em geral todos quantos se opõem às autoridades e aos oficiais civis, subvertem a justiça [7], introduzem a comunhão de bens, e perturbam a boa ordem que Deus estabeleceu entre os homens.

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[1] Pv 8.15; Dn 2.21; Jo 19.11; Rm 13.1 [2]. Êx 18.20; [3] Dt 1.16; Dt 16.19; Jz 21.25; Sl 82; Jr 21.12; Jr 22.3; 1Pe 2.13, 14; [4] Sl 2; Rm 13.4a; 1Tm 2.1-4; [5] Mt 17.27; Mt 22.21; Rm 13.7; Tt 3.1; 1Pe 2.17; [6] At 4.19; At 5.29; [7] 2Pe 2.10; Jd .8.

*As palavras em itálico foram removidas pelo Sínodo Geral das Igrejas Reformadas da Holanda [Gereformeerde Kerken in Nederland] em 1905.

 

Artigo 37: O juízo final

 

Por fim, cremos, conforme a Palavra de Deus, que ao chegar [1] o tempo ordenado pelo Senhor — mas desconhecido por todas as criaturas — e se completar o número dos eleitos [2], o nosso Senhor Jesus Cristo voltará do céu de maneira visível e corporal assim como ele ascendeu (At 1.11), com grande glória e majestade [3]. Ele instalará a si mesmo como o juiz dos vivos e dos mortos [4] e porá este antigo mundo em chamas para o purificar [5]. E então, todas as pessoas — homens, mulheres e crianças — que existiram no mundo, desde o seu princípio até o seu final, aparecerão pessoalmente diante deste grande Juiz [6], intimados pela voz do arcanjo e pela trombeta de Deus (1Ts 4.16).

Todos os que morreram antes deste dia ressurgirão da terra [7], quando os seus espíritos se reunirem aos corpos com que viviam. Os que estiverem vivos não morrerão como os outros, mas serão transformados de corrupção em incorrupção num piscar de olhos [8]. Então, se abrirão os livros e os mortos serão julgados (Ap 20.12) segundo o que fizeram, de bom ou de mal, neste mundo (2Co 5.10) [9]. Na verdade, todos neste dia prestarão contas de toda palavra frívola que proferiram (Mt 12.36), as quais o mundo considera apenas como zombaria e diversão. E os segredos e as hipocrisias dos homens serão revelados publicamente diante dos olhos de todos. Por isso, pensar neste juízo é coisa terrível e apavorante para os ímpios e malfeitores [10], mas é grande gozo e conforto para o justo e eleito. Para eles completar-se-á a plena redenção e receberão os frutos de seus labores e das angústias que sofreram [11]. A todos será manifesta a sua inocência e contemplarão a terrível vingança que Deus trará sobre os ímpios que os perseguiram, oprimiram e atormentaram neste mundo [12].

Os ímpios serão condenados pelo testemunho das suas próprias consciências e tornar-se-ão imortais tão-somente para serem atormentados no “fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mt 25.41) [13], mas os fiéis e eleitos serão coroados de glória e de honra. O Filho de Deus confessará os seus nomes diante de Deus seu Pai (Mt 10.32) e dos anjos eleitos (Mt 10.32) [14]. Deus “lhes enxugará dos olhos toda lágrima” (Ap 21.4), [15] e a causa deles — no presente, condenada como herética e maligna por tantos juízes e autoridades civis — será reconhecida como a causa do Filho de Deus. O Senhor, por graciosa recompensa, lhes fará possuir uma tal glória, que é impossível de ser concebida pelo coração do homem [16]. Por isso ansiamos com grande expectativa por aquele grande dia para gozarmos da plenitude das promessas de Deus em Jesus Cristo nosso Senhor.

Amém! Vem, Senhor Jesus! (Ap 22.10).

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[1] Mt 24.36; Mt 25.13; 1Ts 5.1, 2; [2] Hb 11. 39, 40; Ap 6.11; Ap 1.7; [3] Mt 24.30; Mt 25.31; [4] Mt 25.31-46; 2Tm 4.1; 1Pe 4.5; [5] 2Pe 3.10-13; [6] Dt 7.9-11; Ap 20.12, 13; [7] Dn 12. 2; Jo 5.28, 29; [8] 1Co 15.51, 52; Fp 3.20, 21; [9] Hb 9.27; Ap 22.12; [10] Mt 11.22; Mt 23.33; Rm 2.5, 6; Hb 10.27; 2Pe 2.9; Jd .15; Ap 14.7a; [11] Lc 14.14; 2Ts 1.3-10; 1Jo 4.17; [12] Ap 15.4; Ap 18.20; [13] Mt 13.41, 42; Mc 9.48; Lc 16.23-28; Ap 21.8; Ap 20.10; [14] Ap 3.5; [15] Is 25.8; Ap 7.17; [16] Dn 12.3; Mt 5.12; Mt 13.43; 1Co 2.9; Ap 21.9-22.5.

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Texto preparado com base em “A Confissão Belga”, em: As três formas de unidade das igrejas reformadas, 3ª ed. rev., trad. Marcos Vasconcelos (Recife: CLIRE, 2017), p. 17-53.

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